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O terror de todos os dias

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Stephen King talvez seja uma das pessoas mais cultuadas do último século, o que é incrível, se pensarmos na capacidade humana de errar o pulo quando se trata de veneração. Escrevo isso não só pelo que King produziu como conteúdo literário, mas, também, com o que o próprio “coproduziu” – digamos assim – a cada entrevista e em cada um de seus depoimentos ao longo dos mais de cinquenta anos de carreira.

Certa vez, em uma sessão de autógrafos, um jovem se aproximou de King suando muito, seus olhos não piscavam e sua garganta não parecia engolir. Ele apenas esticou o braço com o livro e disse: “O senhor é real, eu pensei que encontraria um monstro, talvez um alienígena”. Anos mais tarde, o escritor estadunidense deu um depoimento contando esse fato e completou: “As pessoas que começaram a acompanhar meu trabalho logo cedo pensavam que eu poderia ser alguém macabro. Mal sabiam elas que eu era um cara ganhando milhões com algo que eu faria até de graça”.

King sintetiza bem o artista entrincheirado em sua arte, lutando por algo que, por vezes, nem ele próprio sabe bem o que é. E essa é sua grande receita de sucesso, tão sinceramente poderosa que, ano após ano, faz muitos de seus leitores também se tornarem pessoas bem sucedidas.

Sei que a maioria de vocês não deve ter lido uma obra sequer dele e não serei eu a recomendar que o façam. Stephen King tem uma escrita muito particular, que tende a agradar um público mais, digamos, visceral. Acredito que o mais importante sobre ele – e é isso que tento transmitir aqui – é o fato de sua admiração pelo trabalho ser o grande trunfo de seu imenso sucesso. E disso surge a grande verdade: se você ama o que faz, o seu trabalho, então você não precisará trabalhar um dia sequer de sua vida.

Ok, é para poucos – eu sei – esse lance de ser obstinado ao extremo, de acreditar com mais força do que duvidar de si mesmo ao longo da vida. Mas, enfim, de onde será que vem a ingenuidade que nos faz tão dependentes da opinião de outros? Que ideia estúpida é essa de colocar o talento acima do prazer? Aliás, quem define o que é talento? Se o próprio Stephen King tivesse dependido dos “analisadores de talento” para se tornar o escritor mais respeitado do mundo, ele estaria ainda vivendo em um trailer com sua mulher e precisando se alimentar com a ajuda de estranhos.

O escritor de suspense, terror e ficção mais consagrado que já existiu deixou claro que o conto de terror que mais o apavorou durante a vida foi a possibilidade de um dia ele não poder simplesmente sentar-se sobre uma escrivaninha velha e escrever, independente de existir ou não talento nele.

Ah, outra história curiosa. Certa vez, Stephen fazia compras no mercado, uma senhora bem velha o reconheceu e veio ao seu encontro dizendo: “Respeito o que você faz, mas acho burrice alguém doar qualquer tempo aos seus livros. Você deveria ler aquele incrível livro que saiu há pouco tempo, ‘The Green Mile’ (no Brasil traduzido para ‘À espera de um milagre’). O sujeito que escreveu aquilo, sim, é um escritor de verdade”. Stephen King apenas sorriu, concordando. Enquanto a velhinha ia embora, outro sujeito que ouvira aquilo disse: “Ei, por que você não disse a ela que também é o escritor de ‘The Green Mile’? King apenas disse, novamente sorrindo: “Eu não preciso que gostem de mim, apenas do meu trabalho. Sou mais o que faço do que Stephen King”.

É isso. Seja mais o que você ama fazer e menos você. Esse é o maior talento que qualquer pessoa poderá ter.