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Você realmente precisa de tudo isso?

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Há muito ouvimos: “veja tudo que você tem”. Frase clichê, eu sei, e esse é o lado ruim de popularizar demais uma fala, pois, de tanto ouvi-la, esquecemo-nos de parar para pensar na profundidade desses tesouros que nos surgem à porta todos os dias.

Acredito que essa seja a receita mais simples para se viver com alegria: lembrarmos do que temos. A grande dificuldade nesse olhar está em nossa visão periférica. Nós, humanos, nos tornamos peritos em executar várias funções ao mesmo tempo. Só para você ter uma ideia, uma pesquisa recente apontou que a capacidade de atenção dos adolescentes caiu de 12 segundos, em 2003, para 8 segundos, em 2013. Isso significa um segundo a menos em relação a peixes de aquário.

Em um mundo no qual nos sentimos a caminhar sobre gelo fino, em que qualquer parada parece significar o despencar, nos acostumamos a correr sem percebermos com profundidade tudo que nos cerca. Obviamente isso resulta em uma interpretação superficial que nos causa a falsa impressão de que nossos problemas são exclusivos. Logo, na bola de neve emocional, surge a sensação de total solidão diante das mais comuns aflições que nos acompanham desde os primórdios.

Perceber superficialmente o outro é o despertar de um desespero silencioso. Começamos ainda crianças a desejar o que não nos pertence, estimulamos esse apetite quase sem limites e quando esses limites surgem mediante a imposição que a sociedade cobra, acabamos por simplesmente reprimir esse desejo sem realmente combatê-lo. Já adultos, vemos as posses de outros, as extravagâncias e o exibicionismo como um atentado a nossa vida tão cheia dos limites de posse. Sobram-nos duas opções: invejar querendo alcançar ou invejar sem perspectivas de tal desfrute. O problema é que, para qualquer dessas opções, o resultado será o mesmo – frustração.

Nietzsche questionava se amamos o desejo ou o desejado. Vou exemplificar. Você quer muito aquele carro, sonha com ele, acorda cedo e trabalha duro para um dia poder comprá-lo. Esse dia chega, o carro é finalmente seu, porém, em poucas semanas, já não lhe causa o mesmo prazer estar dentro daquele veículo. Por consequência, logo você estará querendo trocá-lo. Ocorre, nesse caso, não uma paixão pelo objeto desejado, mas, sim, uma paixão pelo desejar, e o carro é simplesmente o materializar de sua ânsia por desejar algo.

Pois vejam, não podemos alterar a natureza de milhares de anos em algumas horas, já que está em nossa origem querer sempre mais. Porém, em uma sociedade de certo modo já estabilizada, a compulsão por desejar nos remete à destruição da capacidade de agraciar o que por nós já foi conquistado. O fato é que sempre haverá alguém a lhe causar inveja, seja pela forma de viver ou pelo que possui materialmente. Se nos apoiarmos na necessidade de sempre alcançar, acabaremos esquecendo o tanto que já conquistamos.

É essa receita simples que crescemos ouvindo, mas ainda cedo paramos de perceber que é a forma mais saudável de existir. Pergunte a qualquer pessoa com limitações físicas sobre a falta que lhe faz uma parte do corpo. Esse é o melhor exemplo que podemos ter, pois ele engloba o maior presente que recebemos: o presente de poder fazer, de acreditar que só depende de nós.

Na próxima vez em que estiver pensando sobre o que alguém possui, pare e pense no que você possui. Sinta o prazer de abrir sua geladeira e ver comida nela, se jogue na cama e sinta o prazer de simplesmente poder se deitar em uma. Agora, se isso não lhe causa prazer, aprofunde tal terapia – passe 24 horas sem comer e durma em um chão duro. Depois, ainda com fome e dor nas costas, questione-se sobre quanto você acha que é preciso para ser feliz.