“A informalidade vai mudar de cara”, alerta economista

O mercado ilegal no Brasil representa 7,85% do Produto Interno Bruto (PIB). Em outros países da América Latina este percentual não passa de 2%.

Diante da crise gerada pelo Coronavírus, a preocupação é ainda maior, pois tudo indica que o país vai ver crescer de maneira significativa a informalidade que hoje já afeta a economia. A pauta dominou a primeira reunião virtual da Comissão de Combate à Informalidade (CCI), coordenada pelo vice-presidente da Federação, Daniel Amadio, também presidente do Sindilojas Regional Bento. O encontro reuniu representantes de 25 entidades gaúchas.

Além da economista-chefe da Fecomércio-RS, Patrícia Palermo, também participou da reunião o presidente do Instituto Brasileiro de Ética Concorrencial, Edson Bismona, trazendo dados alarmantes em relação ao mercado ilegal no país. Segundo ele, a perda em 15 setores chegou a R$ 199.616.588.000,00 em 2019, que somados aos R$ 91.823.630.480,00 de perda estimada com sonegação chega a R$ 291.440.218.480,00. “Quem paga, paga por quem sonega”, ressalta Bismona.


Neste cenário, Patrícia destaca que no Brasil ser formal é caro e que o que está na moda é pagar menos. “Estamos vivendo um momento desafiador. Logo, veremos a informalidade mudar de cara. Precisamos que a atividade econômica responda de maneira significativa dentro dos próximos cinco meses, período em que quem perdeu seu emprego ainda terá alguma renda em função das rescisões e seguridade social. Depois, o nível de consumo vai diminuir e se o panorama não estiver melhor, viveremos um novo golpe”, enfatiza.

O que mais chama a atenção da economista em 2020 é um sério problema de falta de transparência na economia brasileira devido a falta ou carência de estatísticas do mercado de trabalho. “Até duas semanas atrás estávamos no escuro em relação a empregos formais no país. Desde janeiro, o CAGED – Cadastro Geral de Empregados e Desempregados – não trazia nenhum dado. As primeiras informações chegaram há duas semanas e são chocantes”, enfatiza. Patrícia explica que em 2019 foram destruídos 20 mil postos de trabalhos, mas que mesmo assim isso não foi capaz de elevar as taxas de desemprego do Estado, ainda entre as mais baixas do Brasil.

Ela também informa que 2020 começou muito bem no RS com a criação de 36 mil postos de trabalho entre janeiro e fevereiro. Entretanto, com a Covid-19 março já eliminou 14 mil vagas e abril foi muito pior com a eliminação de 74 mil postos formais de trabalho, sendo 25% só no comércio. Contudo, conforme a economista, o pior é fechar tudo. “Não tivemos Páscoa, nem Dia das Mães. Agora teremos Dia dos Namorados. Não é o ideal, mas estamos caminhando. O modelo do RS operando com um sistema de bandeiras ainda é o melhor. Temos uma liderança muito positiva, espaço para o diálogo e atitude para recuar, se necessário”, aponta.

Hoje, o RS tem quase 500 municípios. Vinte deles respondem por 65% destas demissões. Só em Porto Alegre foram demitidas 17 mil pessoas. O núcleo de Caxias do Sul se aproxima das 6 mil demissões e Gramado, que aparece na sétima posição, fechou mais de 2 mil vagas de trabalho em razão do turismo estar parado. No Brasil, 1 milhão de vagas geradas em 2018 e 2019 foram eliminadas em dois meses. “Lamento muito quando uma vaga de emprego é fechada, mas lamento muito mais quando uma empresa é fechada. Um posto de trabalho pode reabrir, uma empresa é muito difícil”, conclui.