Centro Revivi já atendeu mais de 900 mulheres vítimas de violência em 2022

Na Câmara de Vereadores de Bento, o Centro explanou os índices de 2021 e 2022, mostrou que a maioria das vítimas tem entre 20 e 40 anos e que a violência psicológica é a mais usada

Foto: Lucas Marques

O Agosto Lilás é uma iniciativa alusiva à conscientização da violência contra as mulheres. Para apresentar alguns dados referentes a Bento Gonçalves, a coordenadora do Centro Revivi, Patrícia Regina Da Rold de Costa, esteve presente na sessão ordinária da Câmara de Vereadores, na segunda-feira, 01/08, para relatar aos parlamentares do município o trabalho de referência que tem sido feito pela instituição, pela Coordenadoria da Mulher, pela Polícia Civil, pelo Ministério Público e pelas secretarias da Saúde e de Esporte e Desenvolvimento social.

Segundo dados apresentados pela coordenadora do Revivi, 2021 terminou com 1.592 atendimentos de mulheres vítimas de violência. Neste ano, somente no primeiro semestre já foram registrados 940. Para ela, o aumento já revela que a tendência é que os números superem a marca dos 2.000 atendimentos neste ano. Já com relação aos feminicídios ocorridos no município, não houve registros neste ano, diferente de 2021, quando foram três casos. “Nenhuma das vítimas havia procurado a ajuda do centro”, destaca Patrícia.


Nos casos de visitas domiciliares, em 2021 foram 128 contra 70 apenas no primeiro semestre de 2022. Conforme explica a coordenadora, essas visitas acontecem quando uma mulher que já é atendida pelo grupo deixa de frequentar o espaço. “Ela vem para atendimento com psicóloga semanalmente e para de vir, para de atender ao telefone, para de responder o WhatsApp. Nós conversamos com a Patrulha Maria da Penha e a Patrulha também não localizou mais ela, então nós visitamos pessoalmente […] e vamos até a casa dela”, detalha. O mesmo acontece nos casos de busca ativa, quando a equipe perde totalmente o contato com a mulher atendida e precisa buscar informações sobre ela em outras fontes de dados, como os registros nas Unidades Básicas de Saúde (UBS), por exemplo.

O perfil das mulheres atendidas também foi detalhado durante a apresentação. Segundo relatório do Revivi, a faixa etária predominante das usuárias é entre 20 e 40 anos, ultrapassando os 50%. “Este ano, nós já tivemos um aumento de denúncias de idosas [agredidas]”, pontuou. Com relação à escolaridade das vítimas, a maioria tem Ensino Fundamental Completo (30,4%), seguido de Ensino Fundamental Incompleto (23,1%). Outro dado destacado pela coordenadora é que 49% das mulheres atendidas não são naturais de Bento, mas sim de outras cidades do Rio Grande do Sul. As bento-gonçalvenses são 39,3% dos atendimentos.

Foto: Thais Strapazzon

“Todos esses dados nós conseguimos através de um cadastro que a gente faz no primeiro atendimento da vítima. A gente solicita diversas informações para que a gente possa, no fim do ano, fazer esse relatório, traçar o perfil delas, até que para no ano seguinte a gente trace as nossas ações também, em cima do perfil mais demandado”, afirma.

Um dado que chama atenção é que mais de 66% das usuárias do Revivi trabalham, têm a sua independência financeira, o que contraria o estigma de que apenas mulheres que cuidam da casa e/ou desempregadas sofrem violência doméstica. Outro número relevante é de que 87,4% das vítimas possuem filhos. Em alguns casos, após ter o companheiro afastado, muitas delas se veem com filhos e sem renda. Nessa situação, o Revivi encaminha a vítima para o ACESSUAS Trabalho, da Sedes, para que consigam emprego e possam se sustentar. Segundo Patrícia, muitas vezes o Revivi auxilia mulheres que vieram de outras regiões do país em busca de uma vida melhor e acabaram conhecendo alguém de quem são vítimas de violência. Nesses casos, a equipe busca contato com a família para viabilizar o apoio e retorno às cidades de origem.

Os bairros Aparecida, Ouro Verde, Vila Nova e Conceição são as localidades de Bento que mais se destacam pelo grande número de denúncias. No interior, de acordo com a coordenadora, de 2020 para 2021, houve um aumento de 50% no número de atendimentos. Ela destaca que no interior pode ocorrer que as mulheres sejam mais submissas ao marido e prefiram não procurar atendimento, mas uma mudança está sendo observada.


Sobre o tipo de violência sofrido pelas mulheres atendidas, o relatório revela que a psicológica é a mais comum, principalmente por ser a primeira a ser utilizada dentro dos lares. “Ela está dentro das outras violências. Nenhuma mulher relata que sofreu uma agressão física sem ter sofrido uma psicológica. Nenhuma mulher leva um soco, por exemplo, sem antes ser xingada, ofendida, ameaçada”, pontuou. Na visão da profissional, a Lei 14.188/2021, que alterou o Código Penal, incluindo a violência psicológica contra a mulher como crime tem ajudado bastante nesses casos. Anteriormente, o agressor seria afastado apenas se houvesse violência física.

O encaminhamento para o Centro Revivi é feito via Delegacia da Mulher (Deam) ou diretamente na sede, que fica na rua 10 de novembro, 190, bairro Cidade Alta. O contato também pode ser feito pelos telefones (54) 3055.7418, (54) 3055.7420 ou (54) 99132.8148.