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Confira palavras e expressões racistas para excluir do vocabulário

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Algumas das palavras são utilizadas diariamente na língua portuguesa, muitas vezes sem conhecimento sobre sua origem do período escravocrata

Foto: Priscilla Du Preez/Unsplash

Novembro é considerado o mês da consciência negra, com seu ápice no dia 20, data escolhida em homenagem ao líder quilombola Zumbi dos Palmares. Durante todo o mês são realizadas diversas ações em todo o país, a fim de tratar sobre o racismo estrutural que ainda impera na sociedade brasileira. E um dos aspectos que evidenciam esse preconceito enraizado é a própria língua portuguesa, importada e imposta pelos colonizadores brancos.


Em nosso vocabulário, ainda é possível encontrar diversas expressões que têm sua origem no período escravocrata ou associam o povo negro a conotações pejorativas. São termos que ainda podem passar despercebidos no dia a dia, mas que contam muito sobre a história de um país marcado pela escravidão. Foram mais de 300 anos de escravatura na história do Brasil, tempos que ainda são lembrados com um sentimento de luto por todo sofrimento daqueles que apenas clamavam por liberdade.

Em Bento Gonçalves, a professora Elisângela de Souza Fontoura, atualmente diretora do departamento cultural e pedagógico da Sociedade Educativa e Cultural 20 de Novembro, tem realizado uma série de atividades e palestras nas escolas. Entre os temas abordados, estão as expressões racistas ainda utilizadas em nosso dia a dia, como “denegrir”, “fazer nas coxas”, “criado-mudo” e “doméstica”, por exemplo.

“Sempre digo nas palestras o seguinte: essas palavras, essas expressões, são de origem racista, preconceituosa daquele tempo. Mas quando a gente fala, não é culpa nossa, está na nossa cultura, e é nossa função enquanto escola, enquanto educadores, fazer com que elas deixem de ser usadas, porque elas ferem as pessoas”, comenta. “As pessoas de origem afrodescendente sofrem. Eu sou uma mulher de cabelo crespo, ‘black power’, e quando alguém diz: ‘teu cabelo é ruim’, isso machuca, magoa. As palavras ferem”, revela a professora.

Dessa forma, a disseminação do real significado e da origem dessas expressões se mostra como uma atitude necessária para contribuir com o fim do racismo estrutural. “Temos que ter conhecimento dessas palavras, saber que elas existem para, então, bani-las de nosso vocabulário”, finaliza.

Lista de algumas dessas expressões:

1 – Mulata: a palavra “mulata” faz referência ao animal “mula”, que seria o filhote do cruzamento de um cavalo com uma jumenta ou de um jumento com uma égua. No Brasil Colônia, o adjetivo “mulata” era usado para se referir às mulheres negras, ou oriundas de um relacionamento mestiço.

2 – Denegrir: o verbo “denegrir” é utilizado como sinônimo de “difamar”, porém, a etimologia da palavra significa “tornar negro”. A expressão faz uma relação entre a negritude e algo maldoso ou negativo.

3 – Fazer nas coxas: essa é mais uma expressão herdada do Brasil Colônia. Acredita-se que ela venha da técnica utilizada pelos escravizados para fazer telhas, que eram moldadas nas coxas. Por serem artesanais e seguirem os formatos dos corpos, as peças não se encaixavam bem umas nas outras, sendo consideradas mal feitas.

4 – Doméstica: a palavra “doméstica” se refere às mulheres negras que trabalhavam dentro da casa das famílias brancas e eram consideradas domesticadas, já que os negros eram vistos como pessoas selvagens.

5 – Meia tigela: a expressão “meia tigela” também é uma herança do período escravocrata. Naquela época, os negros que não conseguiam cumprir as metas de trabalho, recebiam apenas metade da porção de comida e eram apelidados de “meia tigela”. O termo se refere a algo sem valor, medíocre.

6 – A dar com pau: essa expressão refere-se aos navios negreiros, onde os negros que não obedeciam recebiam uma alimentação dosada por uma colher de pau.

7 – Inhaca: “inhaca” é o nome de uma ilha de Moçambique, país da África Oriental. Desde a época colonial o termo é usado para falar de algo com cheiro forte, desagradável. A expressão reforça preconceitos ao associar a ilha, onde a população é majoritariamente negra, a algo desagradável e nojento.

8 – Tigrada: tigrada se refere aos negros “tigres”, que eram os negros que carregavam os baldes de fezes das casas dos senhores até os rios. A amônia escorria pelas costas e queimava a pele em forma de listras. Ficavam tigrados, parecendo tigres.

9 – Criado Mudo: criado mudo se refere aos escravos “de dentro”, que serviam os senhores e visitas, sem poder falar nada. Ficavam mudos.

10 – Da cor do pecado: os negros eram a fonte do desejo sexual dos seus senhores, o que os levava a cometer adultério e estupro. A “a cor” favorecia os atos pecaminosos.

11 – Cabelo ruim: o cabelo crespo era dito ruim por ser grudadinho e mais difícil de ser penteado e modelado. O cabelo liso que era bom, por ser fácil de manusear.

*Lista foi elaborada com contribuições da professora e diretora do departamento cultural e pedagógico da Sociedade Educativa e Cultural 20 de Novembro, Elisângela de Souza Fontoura, e do coordenador do Núcleo de Estudos Afro-Brasileiros e Indígenas da Estácio/RS (Neabi-RS) e doutorando em Literaturas Africanas, Paulo Sergio Gonçalves.