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Especial bairro São Roque: ocupado e desenvolvido por militares

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Caminhar pelo bairro São Roque e não encontrar homens e mulheres vestindo a cor verde-oliva é quase impossível. Afinal, o local é berço e casa do Exército Brasileiro em Bento desde 1943, quando o 1º Batalhão Ferroviário (1º BFv), vindo da cidade de Santiago, ocupou uma extensa área do bairro. Na época, a chegada dos militares tinha como objetivo a execução das obras do Tronco Sul, compreendendo desde Roca Sales até Lages e construindo os ramais Bento Gonçalves – Rio das Antas, São Luiz Gonzaga, Cerro Largo, Santo Ângelo, Pelotas e Canguçu.

A base construída pelo batalhão ferroviário no bairro São Roque contava com várias instalações de oficinas, alojamentos, pavilhões administrativos e técnicos, vilas residenciais, hospital, ginásio, campo de futebol, cinema, açude e granja. De acordo com o comandante do 6°BCom, tenente-coronel Lúcio Guerra, muitos bento-gonçalvenses nasceram no hospital do batalhão. 

Tudo isso também é lembrado com carinho e saudade por Clóvis Zanfeliz, 80 anos, Pedro Regalin, 78, Reno Signor, 79, e Danilo José Bez, 79, soldados que foram incorporados em 1956, juntamente com outros 1.355 homens. Os reservas Regalin e Bez recordam do trabalho duro nas obras de construção de túneis e também da colação de postes para a energia elétrica, especialmente em locais próximos ao Rio das Antas. 

Signor relata que trabalhava com o conserto das viaturas na oficina e com transporte dos oficiais. O Armazém de Emergência, local onde de tudo se vendia: alimentos, tecido, ferramentas, entre outros, era onde o reserva Zanfeliz cumpria seu expediente. “Todo o militar tinha um determinado valor do seu salário para gastar no armazém e eu era o responsável por esse controle. Não podia ultrapassar os gastos. Mas muitas vezes chegava um major pedindo para comprar um pouco mais da cota e eu, pobre cabo, deixava. Como eu ia dizer não para um superior? Mas depois o tenente-tesoureiro, meu chefe no armazém, montava em um cavalo de tão bravo. E todo mês isso acontecia. Eu vivia levando bronca”, conta, aos risos, Zanfeliz.

Com poucas opções de lazer, uma das principais atrações da comunidade, inclusive para os militares, era o Cine Serrano. “Nós não frequentávamos festas e bailes, porque às 22 horas a gente tinha que se recolher. Era tudo muito rígido. A cada dois dias o sistema de arrumar a cama mudava, tinha que acrescentar um enfeite ou mudar o jeito de fazer”, lembra Bez. “Mas tinham soldados que conseguiam burlar o sistema. Eles arrumavam a cama, depois colocavam travesseiros e até coturno embaixo das cobertas para fazer de conta que já estavam dormindo, quando na verdade estavam se divertindo”, lembra Regalin. Outro ponto de encontro era o Bar do Adio, local onde os militares se reuniam para beber e jogar sinuca.

Os jogos do Serrano também ficaram marcados na memória dos oficiais. Eles relatam com orgulho uma partida do time contra o Vasco da Gama, do Rio de Janeiro. A equipe local era composta por militares e civis. “Lembro que o padeiro do Batalhão, o Candinho, era o goleiro do Serrano e naquela partida fez defesas espetaculares e chamou a atenção dos dirigentes do Vasco, que o levaram para o Rio de Janeiro. Nunca esquecemos que perdemos aquele jogo e também o nosso padeiro para o time adversário”, conta Zanfeliz.

Fardamento até na folga
Uma lembrança da época também era a rigidez quanto ao fardamento. Os militares afirmam que até em dias de folga eles tinham que usar a roupa completa do batalhão. “Se a Polícia do Exército, que sempre estava na rua, reconhecesse algum soldado sem farda, ele era recolhido imediatamente. Até em casa a gente usava e sempre tinha que estar bem abotoado e o coturno brilhando, senão também éramos punidos”, lembra Signor. 

Nos dias de folga, a rotina era ir até o centro da cidade, a bordo do “1500”, como era conhecido o ônibus que passava todos os dias no bairro. “Era chamado de 1500, pois a passagem custava 1 cruzeiro e 50 centavos”, lembra Bez. 

Confira o especial na íntegra