• Naturepet Pharma
  • Posto Ravanello
  • Envase
  • Debianchi
  • Vinícola Garibaldi

“Estamos pagando para trabalhar”: famílias mudam rotina para suportar aumento no preço dos combustíveis

  • Vinícola Garibaldi
  • Naturepet Pharma
  • Envase

Carona para o trabalho, redução de visitas aos familiares, carro à venda e até mudança de emprego e cidade estão entre os relatos de pessoas que estão sofrendo com o preço da gasolina, que já ultrapassa R$ 7


O preço da gasolina já acumula uma alta de 73% somente em 2021. Nas bombas dos postos de combustíveis em Bento Gonçalves, o valor já ultrapassa R$ 7 e os constantes aumentos têm obrigado famílias e trabalhadores a mudarem suas rotinas em busca de economia. É o caso da química Camila Cavasin, que promoveu mudanças significativas no seu dia a dia. Ela e o marido começaram a ir ao trabalho a pé e as entregas, que antes eram feitas de carro, hoje são realizadas por motoboy. “A gente também costumava viajar a passeio uma vez por mês e hoje só por necessidade. Sem contar os hábitos que tínhamos, que indiretamente estão ligados aos combustíveis, como pedir delivery de comida, compras no mercado, etc… Infelizmente estamos vivendo uma época de trevas aqui no nosso país”, lamenta. “Nós ainda somos privilegiados, porque temos trabalho, casa, família e uma estrutura que nos dá um pouco de paz no coração para seguir em frente. Abrimos mão de muita coisa, para que não nos falte com o passar do tempo. Em contrapartida, penso muito nas famílias que não têm o mínimo para viver dignamente. Como elas podem abrir mão se não têm o básico?”, reflete.

É o caso da microempreendedora Ledonia Faes, que lamenta a perda da renda e conta que hoje a família “está pagando para trabalhar”. “Evito ao máximo sair de carro. Nosso poder de compra está tão afetado que estamos a um passo muito pequeno de nos tornarmos, mais uma vez, pobres – considerando que somos classe média baixa. Estou com um carro à venda, porque ou eu pago gasolina ou coloco comida na mesa”, desabafa.

A professora de inglês Melissa Lanfredi relata que todos os dias levava seu noivo ao trabalho e depois seguia a Garibaldi, onde ela leciona. No entanto, hoje ele vai a pé para evitar mais gastos. “Por menor que seja a distância já dá uma diferença grande na gasolina. Nosso gasto mensal com combustível era de uns R$ 400 agora gira em torno de R$ 600 e o ônibus de Bento a Garibaldi é basicamente o valor do litro da gasolina”, pontua. Ela ainda comenta que o casal cogitou trocar de carro para um mais econômico, mas barrou a ideia ao ver que os preços dos veículos também subiram muito. “Nossas famílias moram no interior e estamos abrindo mão de estar com eles porque não conseguimos dar conta dos gastos da semana”, lamenta.

Foto: Eduarda Bucco

Já na família da empresária Raquel Borile a mudança foi ainda mais drástica. “A gente morava em Garibaldi, mas trabalhávamos em Caxias do Sul. Com o aumento do combustível optamos por nos mudar, pois gastávamos mais ou menos R$ 2.500 por mês só em gasolina. Confesso que não gostei da mudança, mas se fez necessária”, confidencia.
Momentos simples mas bem especiais também estão saindo da rotina dos trabalhadores. A pedagoga Luciane Fellini conta que todos os dias ela saía do trabalho para almoçar com sua mãe e seu filho e, ainda, o levava para a escola. Com os aumentos, isso não foi mais possível. “É algo muito significativo pra mim, mas infelizmente não tem como manter”, lamenta.

Patrícia Zanin Mezacaza, que atua como analista de garantia em uma concessionária de Bento, tem revezado carona com a colega de trabalho durante a semana. “Combinamos de uma semana ir com meu carro e na outra com o carro dela. Com isso, consigo economizar, pelo menos R$ 150 por mês”, conta. Já a psicóloga Ana Paula Tessaro diminuiu atendimentos fora da cidade por conta dos aumentos.

Novo aumento

Em visita à cidade de Anguillara Veneta, na Itália, na segunda-feira, 01/11, o presidente Jair Bolsonaro disse à imprensa que soube “extraoficialmente” que um novo aumento dos combustíveis está sendo planejado pela Petrobras para daqui a 20 dias. “Esta semana vai ser um jogo pesado com a Petrobras. Porque eu indico o presidente, quer dizer, tem que passar pelo conselho, não sou eu que indico, e tudo que de ruim acontece lá cai no meu colo. O que é bom não cai nada em meu colo”.

Horas depois, no entanto, a Petrobras desmentiu o presidente da República e disse que não antecipa decisões de reajustes de preços de combustíveis. Em comunicado ao mercado, a estatal indicou que não há nenhuma decisão tomada por seu Grupo Executivo de Mercado e Preços (GEMP) que ainda não tenha sido anunciada ao mercado. Segundo a petroleira, ajustes de preços de produtos são realizados no curso normal de seus negócios e seguem as suas políticas comerciais vigentes. “A Petrobras reitera seu compromisso com a prática de preços competitivos e em equilíbrio com o mercado, ao mesmo tempo em que evita o repasse imediato das volatilidades externas e da taxa de câmbio causadas por eventos conjunturais”, disse a companhia em nota.

Ainda na entrevista, Bolsonaro disse que o ideal é tirar a estatal “das garras do Estado”, com a privatização da empresa. “Isso é o ideal, no meu entender, que deve acontecer. Agora, isso aí não é colocar na prateleira e vender amanhã. Esse processo vai durar mais de ano”, admitiu.

Ainda na avaliação de Bolsonaro, um novo reajuste não pode acontecer. “A gente não aguenta porque o preço dos combustíveis está atrelado à inflação e falou em inflação, falou em perda do poder aquisitivo. A população não está com salário preservado ao longo dos últimos anos. Os mais pobres sofrem”, disse.