• Ótica Debianchi Lente em Dobro
  • Naturepet Pharma
  • Vinícola Garibaldi

Mulheres dão exemplo ao excercer com excelência profissões ainda dominadas por homens

  • Naturepet Pharma
  • Posto Ravanello
  • Vinícola Garibaldi
  • Debianchi

Jornalista esportiva de Caxias do Sul Carolina Freitas, policial Jordana Zanotto e piloto Letícia Mainardi, ambas de Bento Gonçalves, contam sua trajetória, rotina e aprendizados em profissão dos sonhos e reafirmam que “lugar de mulher é onde ela quiser”

Fotos: arquivo pessoal

Especial de Mês da Mulher do SERRANOSSA: “Lugar de mulher é onde ela quiser”

Persistência e muito amor pelo esporte. Jornalista esportiva conta trajetória para conquistar cargo dos sonhos

Caxiense Carolina Freitas, formada em Jornalismo pela UCS, hoje trabalha na editoria de Esportes do maior veículo de comunicação do RS

A paixão pelo futebol sempre esteve em evidência na vida da jornalista Carolina Freitas. Desde pequena acompanhando o esporte, principalmente os jogos do seu querido time Juventude, a caxiense não teve dúvidas ao escolher a profissão dos sonhos: jornalista esportiva. “Quando era criança eu sempre me imaginei exercendo outra profissão. Minha mãe é professora, então, sempre quis ser também. No entanto, no Ensino Médio optei por fazer Magistério e, durante esse período, vi que não era bem o que eu imaginava. Então, tive que parar e imaginar outras possibilidades. A partir de então, optei pelo Jornalismo”, conta Carolina.

A escolha pela área veio após uma conversa sincera com sua mãe, Gislaine Freitas. “Ela me perguntou o que eu gostava e a resposta foi ‘assistir futebol’”, recorda. Desde então, a caxiense se agarrou ao objetivo de trabalhar na editoria de Esportes.

Mas antes mesmo de começar sua jornada ao topo, Carolina sabia que iria enfrentar uma série de dificuldades. Na área do jornalismo esportivo, a atuação das mulheres ainda é tímida e bastante criticada. “Nunca passei por nenhuma situação de machismo velado ou explícito no ambiente de trabalho. Algumas vezes, no entanto, leio algumas barbaridades nas redes sociais. Porque, infelizmente, ainda tem muita gente que insiste que mulher não entende e não pode falar sobre futebol”, lamenta a jornalista.

Mais que uma vaga no mercado, que ainda impõe restrições às mulheres, ela almejava trabalhar em um veículo grande de comunicação. Para isso, decidiu iniciar logo cedo a busca por um estágio na área. Foram vários “nãos” que, ao invés de desanimá-la, trouxeram mais garra à procura. “Sempre era questionada sobre experiências na área. Até que, em certo momento, consegui uma vaga na Frispit Rádio, na agência da UCS”, conta. A experiência abriu portas para que, mais tarde, conseguisse uma vaga na Rádio Gaúcha Serra, na RBS. “Foram dois anos de estágio — entre editoria Geral e Esporte. Quando me formei, fui ‘freelancer’ em Porto Alegre por seis meses na produção de Esportes e, agora, atuo como Editora, na mesma editoria”, relata. “Acho que foram muitos processos para chegar à efetivação no maior veículo de comunicação do RS”, analisa Carolina.

Durante sua graduação, além de buscar um lugar no mercado de trabalho, a jornalista ainda decidiu investir em estudos sobre a “Falta de representatividade feminina nas jornadas esportivas de rádio” – tema do seu Trabalho de Conclusão de Curso (TCC). “Acho que ainda falta muito para termos algo parecido com a igualdade de oportunidades na área. Mas, na Gaúcha, por exemplo, temos a Valéria Possamai como plantonista nas jornadas esportivas. Então, imagino, e torço, para que em poucos anos tenhamos, finalmente, o mesmo número de mulheres e homens competentes exercendo as mesmas funções no jornalismo esportivo, especialmente na jornada esportiva”, comenta.

Hoje atuando como editora, e não mais como repórter, Carolina acaba cobrindo um número menor de pautas. Mesmo assim, tem se dedicado a acompanhar de perto os times femininos do Rio Grande do Sul, estampando nas manchetes o protagonismo das mulheres no esporte do Estado. “Atos pequenos me deixam muito contente na profissão. Por exemplo, sempre que conseguimos um espaço maior no futebol feminino no jornal impresso eu fico ‘super’ feliz. Ou quando conseguimos fazer uma pauta para ajudar alguém que está em busca de ajuda para realizar o sonho no esporte e dá certo, acho que concluímos com maestria nosso trabalho. São situações pequenas, mas que fazem a diferença”, finaliza.

Mãe e policial relata jornada dupla de amor e dedicação dentro e fora da delegacia

Há oito anos, Jordana Fisch Zanotto trabalha como policial plantonista na DPPA de Bento Gonçalves, aliando família e emprego com maestria

Natural de Carazinho, Jordana Fisch Zanotto decidiu ainda jovem seguir a carreira de biomedicina. Mas em um ano trabalhando na área, um amor de adolescência acabou falando mais alto. Desde muito jovem, ela acompanhava filmes policiais e de investigação. “Aquilo me encantava muito”, recorda. Foi então que, em 2013, ela decidiu se inscrever no concurso da Polícia Civil do Rio Grande do Sul, conquistando a vaga no ano seguinte. “Foram seis meses de formação em 2014. Em dezembro [daquele ano], comecei a atuar na DPPA [Delegacia de Polícia de Pronto Atendimento] de Bento. Escolhi a cidade por gostar bastante da região”, conta.

Hoje, aos 34 anos, Jordana já soma oito como policial plantonista no município. São 24h ininterruptas de trabalho, seguidas de 72h de descanso. “Pode parecer pouco, mas não é. Nessas 24h a gente trabalha muito. E a demanda aumentou nos últimos anos com o aumento da criminalidade, principalmente do tráfico de drogas. Além do aumento de casos de violência contra a mulher. Então precisamos de bastante tempo para nos recompor”, explica.

Como policial plantonista, ela é responsável pelo registro de ocorrências, confecções de prisões em flagrante, acompanhamento de presos à Penitenciária de Bento Gonçalves e atendimento das vítimas de violência doméstica. “Um dois maiores desafios hoje da profissão é esse aumento da criminalidade e consequentemente da demanda, além da desvalorização do policial. Não temos investimento em estrutura, em pessoal e salário. Não temos motivação. Hoje a gente trabalha na força do amor e do ódio”, desabafa a policial.

E fora da delegacia, Jordana também assume outro papel importante: o de mãe. “Como mulheres, a gente enfrenta uma jornada dupla. Temos nossa casa e nossos filhos. Como mãe de duas crianças pequenas [uma menina de quatro e um menino de dois anos], minha rotina é frenética. Não paro nunca”, relata. Mesmo com as dificuldades do dia a dia, não falta dedicação para depositar responsabilidade e muito amor nas duas funções.

Sobre o cenário da policial hoje no país, Jordana avalia que ainda é perceptível a predominância dos homens na função. Mesmo assim, acredita que o número de mulheres no cargo tem apresentado um aumento importante. “Tem espaço para todos e a mulher está, cada vez mais, mostrando que tem essa força e inteligência para exercer a função da mesma forma que o homem”, comenta. “Hoje temos nos cargos superiores [da PC] muitas mulheres, inclusive nossa chefe de polícia [Nadine Anflor], que está fazendo um ótimo trabalho desde que entrou no cargo”, analisa.

Segundo Jordana, para que mulheres possam entrar na profissão de policial, basta ter força de vontade. O único pré-requisito é ter formação Superior. “Precisamos ter postura firme e mostrar que viemos para ser iguais, para fazer nossas funções independente do gênero. Claro que encontramos muitas atitudes machistas dentro da polícia. Às vezes passamos por situações bem constrangedoras, mas não podemos baixar a cabeça nunca. Precisamos continuar lutando para conquistar nosso espaço da melhor forma”, conclui.

A paixão pela aviação e a persistência de uma bento-gonçalvense que almeja voar cada vez mais alto

Seguindo um sonho de criança, Letícia Mainardi foi atrás de muito estudo e qualificação para hoje assumir cargo de piloto em empresa com rotas internacionais

Fotos: arquivo pessoal

“Mulheres são fortes, determinadas e, como falamos na aviação: atingem céus cada vez mais altos”. A fala da bento-gonçalvense Letícia Mainardi, de 38 anos, não poderia ser mais certeira para resumir sua trajetória profissional. Desde pequena, Letícia conta que criou admiração pela paixão que pilotos demonstravam por aeronaves. “Minha mãe [Nilva Salvati Mainardi] foi costureira até se aposentar e costurava camisas para comandantes da VARIG [companhia aérea]. Sempre dizia que queria ‘dirigir’ o avião. E a paixão foi crescendo à medida que eu fui conhecendo mais a área”, recorda.

A bento-gonçalvense foi criada somente pela mãe, enfrentando dificuldades financeiras em sua infância. Mesmo assim, com o apoio financeiro e emocional de seu tio Edemar Salvati e de seu irmão Leonardo Mainardi, o sonho de virar piloto de avião não ficou de lado.

Aos 17 anos, Letícia iniciou seu primeiro treinamento na área no Aeroclube de São Leopoldo, atual Aeroclube de Eldorado do Sul. Por lá, ela trabalhou como instrutora de voo, até conseguir participar de uma seleção em uma empresa aérea. “Vivenciei crises no setor aéreo, o que não facilitou a entrada no mercado”, recorda.

Além da formação no aeroclube, Letícia cursou Ciências Aeronáuticas na PUCRS e fez pós-graduação na mesma área. Também completou a formação de Piloto Planador no Aeroclube de Bento Gonçalves. “Hoje estou finalizando a faculdade de Pedagogia, porque pretendo continuar trabalhando na área de ensino aéreo também”, conta.

Os primeiros voos de Letícia como piloto foram em uma aeronave de pequeno porte em Manaus, no Amazonas. Atualmente, ela pilota um modelo A330 de uma empresa de carreira comercial, fazendo rotas internacionais. Mas sempre que possível, Letícia retorna a Bento Gonçalves para visitar a cidade e o seu “maior amor”, que é a família.
“Alcançar voos mais altos é o que todo piloto deseja. Controlar uma aeronave é fascinante. A possibilidade de voar equipamentos mais complexos e desafiadores do mercado, sendo o atual um dos maiores existentes, é encantador”, comenta.

Estando entre a baixa porcentagem de mulheres pilotando aviões no mundo – segundo ela, as mulheres representam cerca de 4% dos tripulantes técnicos contratados pelas empresas áreas –, Letícia se tornou um símbolo de persistência e representatividade. Mesmo assim, ela acredita que a ascensão feminina na aviação tem sido “gigante”. “Acredito que todas as pessoas chegam aonde almejam com dedicação. Nunca pensei ser um mercado machista. Pelo contrário, nós vencemos tudo pelo que lutamos”, afirma.