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“Não podemos desassociar a leitura do prazer pessoal”, afirma escritora Letícia Wierzchowski

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A 35ª Feira do Livro de Bento Gonçalves iniciou na quarta-feira, 07/10, trazendo um formato totalmente digital, em virtude do momento vivido. Mas a troca de experiências e aprendizados literários continua com a mesma força das edições anteriores. A patrona da feira deste ano, a gaúcha Letícia Wierzchowski, está possibilitando a crianças, jovens e adultos um mergulho no mundo da literatura, a partir de bate-papos on-line. 

Natural de Porto Alegre, Letícia conta que começou a escrever quando tinha cerca de 20 anos. Na época, trabalhava em sua própria confecção. “Eu gostava muito de desenhar quando criança, principalmente moda. Então aprendi a costurar e montei uma confecção. Um dia, estava esperando para fazer um acerto de venda e o tempo não passava. Naquela época não tinha computador e eu não tinha um livro para ler. Então eu pensei: ‘já que não tem uma história para ler, porque eu não escrevo uma?”, recorda. 

Em 1998, Letícia lançou seu primeiro livro “O anjo e o resto de nós”, título que abriu caminho para o lançamento de outras 30 obras até o momento. Entre elas, o sucesso nacional “A Casa das Sete Mulheres”, romance que foi adaptado para uma minissérie da Globo, em 2003. “Eu gosto muito de história. Para esse romance, me inspirei no livro do Tabajara Ruas, ‘Os varões assinalados: o romance da Guerra dos Farrapos’, que conta a história dos homens, dos varões que fizeram a Revolução Farroupilha. Mas as mulheres nunca apareciam na obra, então pensei: ‘ao invés de contar a história pelo lado dos homens, eu vou contar a Revolução pelo ponto de vista das mulheres’”, explica Letícia. “A Casa das Sete Mulheres despertou o interesse das pessoas pela história. Isso é interessante porque, nos livros que a gente utiliza nas escolas, as histórias são sem vida. Humanizar as histórias é uma forma de fazer com que as pessoas aprendam e nunca esqueçam. Eu acho que essa é uma falha da educação no Brasil”, analisa. 

Com mais de 20 anos de experiência literária, Letícia também acredita que a falta de incentivo à leitura pode estar associada à maneira como a literatura é apresentada nos diferentes níveis de ensino. “Até os oito anos, as crianças são levadas nas bibliotecas das escolas e escolhem o livro que querem ler. Depois disso, elas leem os livros que os professores mandam, e depois precisam fazer uma prova sobre o que leram. Então se pega a arte e se coloca no mesmo padrão das ciências exatas, as quais têm apenas uma resposta. A literatura não. A viagem é de cada um”, avalia. “E a arte não foi feita para agradar a todos. Não tem [um livro] menos bom. Então o problema é transformar a literatura somente em uma matéria de estudo. Não podemos desassociar a leitura do prazer pessoal”, complementa.


Foto: Carin Mandelli
 

Projetos Futuros

Com muitas ideias em mente, Letícia conta que os próximos meses serão de grandes novidades.  Ainda neste mês, será lançado o livro “Estrelas fritas com açúcar”, uma ficção inspirada em fatos reais que conta a história da dona Adelina Hess de Souza, a criadora da marca Dudalina. “Ela foi uma das primeiras empreendedoras do Brasil. Teve 16 filhos e os criou sozinho. Então começou a fazer as camisas nos quartos dos guris e, quando morreu, tinha a maior exportadora da América Latina”, adianta. “E o nome [do livro] é uma alusão a uma memória de família. Quando algum dos filhos de dona Adelina estava para nascer, sua mãe ia até sua casa para ajudar e fazia uma espécie de bolinho de chuva, as estrelinhas fritas com açúcar. Então o cheiro do bolinho era um prenúncio de que a ‘cegonha estava chegando’”, brinca Letícia. 

Esse será o 32º livro da escritora gaúcha, que também já se aventurou em literatura infantil, com 10 títulos publicados. Letícia ainda é roteirista, tendo adaptado o livro “O Continente”, da trilogia do “Tempo e o Vento”, de Érico Veríssimo, para a televisão e para o cinema. Para o ano que vem, o lançamento de um livro sobre a vida de Giusepe Garibaldi – finalizando a trilogia da Casa das Sete Mulheres –, um musical e uma história em quadrinhos do seu título de maior sucesso também estão na agenda. “O musical de a Casa das Sete Mulheres será com a Kiara Sasso, considerada a maior atriz de musical do Brasil. Ele será dirigido por Miguel Falabella, então vai ser um musical grande. Eu sinto muito orgulho disso”, comenta Letícia. 

Neste ano, já está em prática um projeto recente da escritora, uma oficina gravada para auxiliar novos talentos a escreverem seus próprios romances. São seis aulas gravadas, contando com material de apoio, que podem ser baixadas pelo site www.casamundicultura.com.br, mediante inscrição. “No Brasil só tem oficinas de contos, de narrativa curta, então eu faço uma curadoria de romance com os meus alunos. Ajudo a criar um projeto e desenvolvê-lo”, explica. 

Em relação à Feira do Livro de Bento, Letícia revela que ficou muito feliz com o convite por gostar da cidade, mas, principalmente, pelo momento vivido. “Há poucas feiras acontecendo neste momento. Eu ia ser patrona de uma agora também, que foi cancelada. Então eu vejo esse desleixo com a cultura com muita tristeza. E eu adoro a frase ‘quando a gente não tem o ideal, a gente fica com o possível’. Então estou com orgulho por estar aqui. Por ver que as crianças terão aulas on-line diferentes. Se todos fizessem isso, a gente passaria por esse período com mais leveza”, opina. 
Confira a programação da 35ª Feira do Livro por meio do link: cultura.bentogoncalves.rs.gov.br/paginas/35-feira-do-livro.