Opinião: Desencontros, por Pedro Dytz Marin


Pedro Dytz Marin é estudante do 1º ano do Ensino Médio no Colégio Sagrado Coração de Jesus.

Muitas vezes, interpretamos situações de maneiras extremamente equivocadas. Trocamos as palavras, invertemos os significados, ignoramos as intenções e o fazemos para satisfazer a base do fundo mais profundo do nosso ego. Simplesmente não damos ouvidos aos fatos, não vemos o que está na nossa frente.

Isso acontece com os conceitos de mentira e omissão. Percebo que a mentira é tão condenada por todos, é escorraçada quando descoberta e, mesmo levando consigo toda sua perversão, esquece-se de carregar a dor embora do corrupto, que, no momento da partida da tão repugnante falsidade, tem de escolher se vai continuar no caminho da sorte, o das mentiras, ou se irá prosseguir, “na marra”, ao lado da verdade. A mentira é tudo isso sim, todavia, não ouço tanto sobre a omissão.


Vejamos claramente, omissão e mentira não são o mesmo, sem nenhuma dúvida, não são. São completamente heterogêneas, mas, claro, são sempre confundidas com o ato de mentir sobrepondo-se à ação talvez até mais vergonhosa de omitir. 

Vamos ao caso que acredito que virá à mente de vocês em primeiro lugar: uma traição. De fato, é demasiadamente comum que o sujeito que sofre a traição diga ao seu parceiro aos prantos: “Você mentiu pra mim!” o que é, curiosamente, verdade: sim, o ‘canalha’ ou a ‘promíscua’ mentiu, de fato. Mentiu quando disse que “estava tudo bem” ou quando sorriu de forma aparentemente pura ao companheiro, no entanto, é fundamental lembrar que, muito mais que mentir, o traidor omitiu.

A omissão fere mais do que se imagina, porque não machuca apenas a quem tal ocorrido é omitido, mas também agride quem omite. Nesse aspecto, a omissão pode ser considerada quase que corajosa, afinal, carregar um peso nas próprias costas é um trabalho cansativo e agudamente doloroso. O feito da omissão é complexo porque pertence a cada e a todo o humano que habita o planeta, todos têm algo tão, mas tão íntimo que não pode ser compartilhado. O triste nisso é que escondemos demais, e fazemos isso no que há de mais visível em nossa face, omitimos muitos de nossos segredos em nossos próprios olhos.

Os olhos, que sentem e muitas vezes deixam transparecer, sim, deixam transparecer tais sentimentos, mas como não são capazes de exercer nossa linguagem uniforme, unânime, a verbal. Os olhos comunicam, mas (mesmo que eu lamente muito) não falam.

E é assim que os mais variados olhos e olhares correm pela multidão sendo vistos, mas não enxergados, com suas omissões mascaradas em castanho, verde, azul ou cor-de-mel.


Tantos, mas tantos olhos que vem e vão despercebidos. Olhos otimistas, geralmente jovens e lustrosos. Olhos atenciosos, que não se deixam por abater pelos absurdos do cotidiano. Olhos gelados, que cortam outros só num encontro de duas ‘vistas’. Olhos cansados, desgastados injustamente pelo tempo. Olhos vazios, assassinados pela desesperança e solidão. Olhos indiferentes, que se contorcem na preguiça do desejo de nunca mais ter que assumir o dever de, além de ver, enxergar. Olhos que olham muito pouco, mas também olhos que se esforçam muito para, no final, se dar conta ou não que poderiam ter se esforçado menos e visto mais.

Usamos nossos olhos para encontrarem os de outros e, nesse poder tão valioso, deixamos que tal convergência pare, e então, quando percebemos, sequer concluímos algo do olhar que acabamos de nos defrontar.

Sinto falta, muita falta, de olhar nos olhos. Quando tudo acabar, sabe do que eu estou falando, quando tudo isso acabar, quero encarar profundamente quem estiver na minha frente e quero desvendar os mistérios de cada olhar.

 Já olhamos exageradamente apenas a nós mesmos, agora quero olhar para os outros, quero conviver com os mais belos e diversificados olhares.


Interessante, olhos são complexos, portões para contágio. Contágio seja de vírus, seja de felicidade.

Olhos, que, tão lindos, não demonstram o esforço de carregar as mais exuberantes e surpreendentes omissões. Tão pesados…