Por que recomeços fracassam?

Conheço muitas pessoas que abrem os olhos para o mundo que as consome, mas poucas que realmente conseguem sair dele. Mesmo diante de grandes devastações emocionais, essas pessoas se veem incapazes de romper o ciclo das atitudes que levam às infelicidades. Há um grande fator por detrás da maioria dessas derrotas: as turmas.

Pense em um relacionamento, a aproximação que culmina no mergulhar na vida do outro. O que era uma relação a dois logo conta com família, amigos e conhecidos. Uma grande e frágil teia se solidifica com essa relação conforme o tempo passa. Logo, os amigos dele são seus, a família dela é a sua. Essa rede invisível de conexões promove uma delicada e crucial estratégia de encaixe: expandir e fortalecer os laços com o outro abrange entrar totalmente na vida que o cerca.

Pois bem, e quando a relação fracassa? Como se dispõem tais laços em nossa vida, agora que nos separamos do(a) parceiro(a)? Eis o grande problema da maioria das pessoas que acham conseguir sair de uma situação desgastante: elas não conseguem perceber e cortar a rede de laços que ao longo do tempo formaram as conexões com esses terceiros – os quais foram trazidos junto ao pacote da relação.


Um indivíduo, para sair das drogas, deve como um dos primeiros atos, identificar e afastar os elementos que surgem como potencializadores do vício ou mesmo gatilhos da situação. Viciados trazem mais viciados, que convivem com outros viciados e assim se forma a infindável cadeia. Logo, abrir mão de um vício significa também abrir mão de amigos, conhecidos e toda essa rede que dá forma ao que chamamos de nós.

Não é incomum pessoas que saem de relacionamentos e logo passam a se relacionar com amigos ou conhecidos desse ex. Não é incomum também que picaretas andem com picaretas e quando se largam, outros picaretas assumam o posto de amigo. 

Eis o trágico poder das turmas: os problemas são semelhantes e as soluções não existem, pois achar a solução muitas vezes é automaticamente o anúncio de um afastamento do grupo dos atormentados.

Sabe aquela amiga que se ergueu na vida? Provavelmente ela o fez quando deixou de andar com você. E aquele cara que se perdeu na vida e nunca mais se recuperou? Provavelmente ele foi incorporado a um grupo, no qual mesmo quando ele vence um elemento, a substituição desse elemento é tão catastrófica quanto.

Somos parte do grupo, mas mais do que isso: somos o grupo. Quer sair de um relacionamento desastroso? Será necessário se distanciar daqueles que o relacionamento trouxe. Quer sair das drogas? Será necessário se afastar daqueles com hábitos nocivos. Quer melhorar como ser humano? Será preciso procurar pessoas com a solução, pois a solução nunca está no grupo.


Muitas pessoas fingem seguir em frente, mas o que a maioria faz é simplesmente a transferência de problema. Muda o indivíduo, mas as propostas são as mesmas. Você acha estar começando algo novo, mas essa pessoa ainda pertence ao seu passado, ele surgiu pela porta do seu sofrível passado.
Mudança é sacrifício e por isso a maioria vive em um ciclo de erros que se repetem mudando apenas o nome e o rosto.