• Vinícola Garibaldi
  • Posto Ravanello
  • Envase
  • Naturepet Pharma
  • Debianchi

Saúde: serviços se adaptam para atender imigrantes

  • Naturepet Pharma
  • Envase
  • Vinícola Garibaldi

Com a chegada de novos imigrantes a Bento Gonçalves, desde 2012, o município precisou se adaptar. Já são 1.300 novos moradores vindos, sobretudo do Haiti, na América Central, mas há também registros de grupos da República Dominicana e de Gana e Senegal, na África. Uma das principais mobilizações aconteceu na rede pública de saúde, para poder prestar um atendimento adequado. Além das questões culturais, a maior barreira continua sendo a comunicação, uma vez que os idiomas dos novos imigrantes são o francês e o crioulo.

No bairro Conceição, onde há uma grande concentração de imigrantes, muitos vivendo em casas coletivas, a consulta pode ser feita em francês. O médico Manoel Claro Alves Neto, que atua na Estratégia de Saúde da Família (ESF) da comunidade, decidiu estudar o idioma para facilitar a comunicação com os pacientes. “Não tenho nenhum ganho financeiro, mas é estimulante. A gente precisa se adaptar à nova realidade”, destaca.  

O médico foi o responsável pela elaboração de um manual em francês e crioulo explicando o funcionamento das unidades de saúde. Segundo o profissional, a maioria dos pacientes estrangeiros busca atendimento em casos de dores e mal estar. Nas conversas durante a consulta, ele busca conscientizar, principalmente, sobre a importância da prevenção.

Quando encontra dificuldade em alguma palavra, recorre a um dicionário online. Foi o que aconteceu na consulta de Givelore Lucas, na última quarta-feira, dia 15, quando utilizou a ferramenta virtual para procurar a tradução da palavra ferida, para explicar o motivo da dor de garganta que levou a haitiana ao posto. Há pouco mais de um ano e meio no município, ela não pensa em voltar para o Haiti, embora a família ainda permaneça lá. A única reclamação é o clima. “Aqui é muito frio”, diz Givelore.

A maioria dos imigrantes mais jovens domina o francês, pois a língua é ensinada nas escolas. Para aqueles que não têm muito conhecimento no idioma e ainda não aprenderam o português, a consulta conta com ajuda de intérpretes. No mesmo dia, Marie Olezehorore foi chamada para ajudar Loida Strart no atendimento com a pediatra. O marido de Loida veio há dois anos para o Brasil. Seis meses depois, ela também deixou o Haiti. Embora os dois não falem português, o filho Josué, de um mês e 15 dias, é brasileiro. “Quero continuar morando aqui”, afirma a mulher.

Além de traduzir para a pediatra os motivos da consulta, Marie também ficou encarregada de explicar para Loida a medicação que o pequeno deveria tomar. Por falar espanhol, não encontrou muitas dificuldades em aprender o novo idioma. “Sempre me ligam quando tem alguém que não fala português. Não me incomodo em ajudar, me sinto bem”, conta. Nascida no Haiti, ela morava na República Dominicana antes de vir para o Brasil, há três anos e meio. Antes de chegar a Bento Gonçalves, ficou seis meses em Manaus e também passou pelos estados de São Paulo e Paraná. Agora, ela está no aguardo da liberação do visto do marido e dos filhos de 8 e 20 anos,  para que eles também venham para a cidade. “A vida aqui é bem melhor. No começo foi difícil, mas agora já me adaptei’”, aponta.

 

Profissionais engajados

 Na última semana, o Núcleo Municipal de Educação em Saúde Coletiva (Numesc), órgão vinculado à secretaria municipal de Saúde (SMS), promoveu um debate entre profissionais dos diversos segmentos da saúde, integrantes da Associação de Haitianos de Bento Gonçalves e entidades ou voluntários ligados à causa da imigração. O objetivo foi buscar formas de qualificar a prestação de serviços. Até o final do ano, novos encontros deverão ocorrer para discussão das ações. O próximo está marcado para setembro.

A coordenadora do Numesc, enfermeira Núbia Beche, comenta que 25% das capacitações promovidas pela secretaria vêm das demandas das unidades de saúde. “Muitos profissionais comentavam da dificuldade em entender a língua e explicar as questões de saúde aos imigrantes”, salienta. Além do manual, também são distribuídos DVDs, em português e francês, com vídeos explicativos sobre o processo de gestação e os cuidados necessários às imigrantes grávidas. Alguns voluntários, principalmente ligados à religião, também estão integrados com a causa e, entre outras atividades, dão aulas de português.

O médico da ESF do bairro Vila Nova, Gabriel Tognon deu sua contribuição ao pesquisar o funcionamento do sistema de saúde no Haiti e as principais doenças. Além do terremoto que atingiu o país em 2010 e do furacão Sandy, em 2012, o país vive conflitos políticos intensos, o que acaba refletindo na qualidade de vida da população: o IDH é o pior das Américas.  

Por já ter alguns conhecimentos em francês, Tognon encontrou dificuldades com os pacientes apenas em termos mais técnicos da área médica. Na unidade em que atua, recebe poucos imigrantes – a maior demanda é de trabalhadores das empresas localizadas nos arredores e que precisam de atendimento durante o horário de expediente. Segundo ele, há uma grande diferença epidemiológica entre os países. “No Haiti, ocorreu um surto de poliomielite, doença erradicada no Brasil. É importante termos esse conhecimento para manter a vigilância, especialmente na questão das vacinas”, exemplifica. 

 

É proibida a reprodução, total ou parcial, do texto e de todo o conteúdo sem autorização expressa do Grupo SERRANOSSA.

Siga o SERRANOSSA!

Twitter: @SERRANOSSA

Facebook: Grupo SERRANOSSA

O SERRANOSSA não se responsabiliza pelas opiniões expressadas nos comentários publicados no portal.